[Anúncios NIC.br] No último dia do FIB13, especialistas discutem soberania digital e os caminhos para a construção de uma agenda nacional sobre o tema
imprensa em nic.br
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Sexta Junho 2 18:42:46 -03 2023
*Uberlândia, 2 de junho de 2023*
*No último dia do FIB13, especialistas discutem soberania digital e os
caminhos para a construção de uma agenda nacional sobre o tema*/
Principal evento sobre governança da Internet no Brasil, realizado pela
primeira vez em MG, teve mais de 1,4 mil inscritos
/
Cada vez mais relevante nos debates de governança da rede, soberania
digital foi o tema da última sessão principal do *13º Fórum da Internet
no Brasil (FIB13) <https://forumdainternet.cgi.br/fib13/>*, que terminou
nesta sexta-feira (2), em Uberlândia. Pela primeira vez, o evento
organizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) aconteceu
em Minas Gerais, e contou ao longo de quatro dias com mais de 1,4 mil
inscritos, 600 credenciais presenciais e 400 credenciais /online/. Foram
mais de 1.500 visualizações nos vídeos da programação do Fórum, que terá
a sua próxima edição, em 2024, na cidade de Curitiba (PR).
Durante a sessão principal desta sexta-feira (2), os palestrantes
buscaram explorar os caminhos para a construção de uma agenda nacional
sobre a soberania digital. A atividade, moderada por Rafael Evangelista,
conselheiro da comunidade científica e tecnológica do CGI.br, começou
com a explanação de Filipe Saraiva, professor da Faculdade de Computação
e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da UFPA, que
apresentou dados do projeto Educação Vigiada, do qual participa.
Segundo o professor da UFPA, 79% das universidades e instituições
públicas de ensino na América do Sul adotam plataformas do Google ou da
Microsoft, sendo a do Google mais prevalente (63%). Realidade semelhante
se verifica quando o recorte é feito no Brasil: 79% utilizam plataformas
do Google ou da Microsoft, sendo 71% usam a primeira. “Quando falamos em
soberania digital de um país, de um continente, e olhamos dados como
esses, observamos que não temos soberania sobre os dados das nossas
instituições de ciência, tecnologia e pesquisa. Quase 80% estão nos
servidores dessas empresas”, alertou, completando que na Europa, o
quadro é diferente, por existir uma cultura de que os dados têm que ser
processados dentro do continente.
Na avaliação dele, o país precisa trazer esses serviços para o
território nacional e então obter a soberania de dados, mas que depende
de decisão política. Saraiva citou projeto em que está desenvolvendo uma
solução-piloto na qual foram mapeadas as funcionalidades que /Google
Workspace for Education/ entrega para as instituições de ensino e os
softwares livres que poderíamos fornecer aplicações semelhantes. “Exige
investimento, orçamento para ter escala, mas é um caminho possível”.
Rodolfo Avelino, professor no Insper e componente da direção do Coletivo
Digital, também trouxe a perspectiva da soberania dos dados. Ele
salientou que mais 70% da infraestrutura de computação em nuvem mundial
estão concentrados nas mãos de quatro empresas norte-americanas. “Onde
os dados são armazenados e processados? Quem projetou, desenvolveu e
opera a tecnologia? Qual a influência das /big techs/ na formulação e
evolução dos padrões e tecnologia?”, indagou.
“Os fóruns onde são discutidas as evoluções, não apenas dos protocolos
de Internet, mas das tecnologias web, estão totalmente ocupados por
essas grandes corporações. E aí busco entender se a Internet evolui ou a
web vem evoluindo por necessidades técnicas ou para a ampliação do
modelo de negócio e de domínios tecnológicos”, provocou.
Luca Belli, professor pesquisador da FGV Direito Rio e Coordenador do
Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS-FGV), conceituou soberania digital
ou tecnológica como a capacidade de regular as infraestruturas digitais,
os dados e os serviços de plataformas digitais. “Poder definir o seu
próprio desenvolvimento econômico, social, cultural e tecnológico é uma
condição essencial para a autodeterminação e autonomia estratégica de um
país, ou seja, não ser dependente das decisões tecnológicas de atores
externos, sejam eles países ou corporações”, explicou.
Ele destacou que um dos pontos essenciais para alcançar a soberania
digital é a conectividade significativa. Citou a Índia como exemplo, que
proibiu em 2017 o /zero rating/, o acesso sem custos a aplicativos –
principalmente de redes sociais de empresas estadunidenses – sob
determinadas condições. "Ao proibir o /zero rating/, as operadoras
indianas foram obrigadas a diminuir os custos, contribuindo para maior
conectividade. Nos últimos seis anos, o número de indianos conectados
cresceu 250%, e os custos de conexão diminuíram 94%".
Belli também reforçou a importância de educação digital para todas as
gerações, não somente para as crianças: “Esse é um ponto essencial que
deveria estar incluído em uma política de soberania digital para que o
desenvolvimento tecnológico nacional se torne mais simples”.
"Ao falarmos de soberania digital, as palavras que vem na mente são
cibersegurança e tecnologia", comentou Mariana de Vasconcellos, da ELO,
citando números da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) que apontam
o investimento de R$ 35 milhões em cibersegurança realizado pelos bancos
em 2022 – a previsão é que ultrapasse R$ 45 bilhões em 2023. Apesar da
alta cifra, os dados de Febraban indicam uma elevação de 165% em golpes
envolvendo engenharia social, nos quais criminosos procuram enganar e
persuadir vítimas a fornecerem informações sensíveis ou a realizarem
ações, como executar códigos maliciosos e acessar páginas falsas.
Vasconcellos mencionou também a pesquisa *TIC Domicílios 2022
<https://cetic.br/pesquisa/domicilios/>*, do *Cetic.br
<https://www.cetic.br/>*, que aponta um aumento no número de brasileiros
com acesso à Internet, chegando a 149 milhões de usuários. "O Brasil tem
214 milhões de pessoas, é como se a população inteira do Estado de São
Paulo ainda estivesse desconectada”. Ainda conforme a pesquisa, apenas
51% dos usuários verificam se uma informação online é verdadeira ou não.
E 92 milhões de brasileiros só têm acesso à rede por meio do celular.
"Esses dados são relevantes para pensarmos na soberania digital como
resultado de múltiplos elementos. Fica difícil falar de país soberano
digitalmente se não temos universalização de acesso, sem que a população
seja educada digitalmente", destacou.
Renata Mielli, coordenadora do CGI.br, enfatizou que é impossível
discutir soberania digital sem antes falar em soberania nacional, e que
os temas digitais estão no centro do debate geopolítico internacional.
“O modelo econômico no qual o digital se sustenta é exatamente a
extração e o uso de dados. É uma disputa estratégica, porque dado é
conhecimento, é poder”.
Para ela, são muitos os papéis do Estado na construção de políticas
soberanas de tecnologias digitais. “Na questão de como incentivos
públicos são criados para promover infraestrutura, desenvolvimento
tecnológico, estruturas públicas para setores estratégicos na área de
desenvolvimento econômico, para que o Brasil deixe de ser apenas um
consumidor de tecnologias e passe a ser um produtor de tecnologias”,
afirmou, citando medidas que, segundo ela, já apontam para uma postura
de mudança do atual governo federal com relação a uma perspectiva
soberana de construção de desenvolvimento de ciência e tecnologia e
inovação na área digital.
Renata ressaltou ainda que é preciso fortalecer a indústria nacional e
criar um ambiente acadêmico, tecnológico e industrial para manter nossos
recursos humanos no país. Falou também sobre a importância de se
desenvolver plataformas próprias. “Não me refiro a redes sociais, mas
dezenas de outras plataformas de interesse público que têm impacto na
vida das pessoas, nas localidades, e que poderiam ser desenvolvidas com
tecnologias e esforço da indústria nacional, do Estado, de parcerias
público-privadas. Uma série de possibilidades para pensarmos
plataformas, cujas arquiteturas estejam mais em sintonia com as
necessidades culturais, sociais e econômicas da população brasileira”.
Confira um pouco mais sobre as demais sessões principais do FIB13, que
falaram sobre *as perspectivas da participação brasileira no Global
Digital Compact
<https://cgi.br/noticia/releases/no-fib-13-especialistas-apontam-expectativas-e-preocupacoes-em-relacao-ao-pacto-digital-global-da-onu/>* e
sobre o tema *Regulação de Plataformas no Brasil
<https://cgi.br/noticia/releases/fib13-traz-debate-sobre-riscos-e-desafios-relacionados-a-regulacao-de-plataformas-digitais-no-pais/>*.
Acesse, ainda, os vídeos de todas as discussões do FIB13 na /playlist/
do evento:
*https://www.youtube.com/playlist?list=PLQq8-9yVHyOY89mxP0TtRYmoc2g6odyax*.
*Sobre o Fórum da Internet no Brasil
*O FIB, que em 2023 chega à sua 13ª edição, é uma atividade preparatória
para o Fórum de Governança da Internet (IGF) e busca incentivar debates
sobre as questões mais proeminentes para a consolidação e expansão de
uma Internet no Brasil cada vez mais diversa, universal e inovadora.
Visa, ainda, evidenciar os princípios da liberdade, dos direitos humanos
e da privacidade, de acordo com o decálogo de Princípios para a
Governança e Uso da Internet do *CGI.br <https://cgi.br/>*.
*Sobre o Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br
*O Comitê Gestor da Internet no Brasil, responsável por estabelecer
diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da
Internet no Brasil, coordena e integra todas as iniciativas de serviços
Internet no País, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a
disseminação dos serviços ofertados. Com base nos princípios do
multissetorialismo e transparência, o CGI.br representa um modelo de
governança da Internet democrático, elogiado internacionalmente, em que
todos os setores da sociedade são partícipes de forma equânime de suas
decisões. Uma de suas formulações são os 10 Princípios para a Governança
e Uso da Internet (*https://cgi.br/resolucoes/documento/2009/003*). Mais
informações em *https://cgi.br/*.
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